v. 65 n. 257 (2005): A paz não tem vez?
Iniciamos este fascículo e, com ele, este novo ano, com um mergulho nas origens da violência com suas expressões simbólica e sagrada. A temática da violência ou da segurança ou da possibilidade da paz e da convivência é, sem dúvida, uma das grandes “insônias” dos dias de hoje. Luiz Carlos Susin nos orienta, com sua reflexão, neste mergulho, através do discurso da tradição bíblica e jesuânica, escolhendo textos fundantes, lidos na perspectiva de fabulações metafísicas e estórias que dão o que pensar (= mitos) e ensinamentos práticos. Jesus, o “novo Adão”, nos mostra que “o amor ao próximo e o amor ao inimigo são duas faces da uma mesma moeda”. Ele revela à humanidade a face de Deus, justo, fraterno, que se comove. Assim, mostra-se que a tragédia de Caim – “a marca do pecado que ainda trazemos em nossa fronte (...), nas defesas de uns contra os outros, na violência anti-fraterna, como medo uns dos outros, tentando controlar o caos com o aumento de poder sobre os outros” – pode ser superada. Trata-se de um caminho profético, de inclusão e respeito à diferença, não de exclusão e domínio.
Qual “o significado profundo dos complexos e fascinantes mecanismos que comandam a vida”? Faz-se referência, aqui, ao progresso da biogenética e da biotecnologia, sem dúvida uma das fronteiras mais deslumbrantes da ciência atual. E o “significado”, segundo Antônio Moser, parece esconder-se em um “código” dotado de “misterioso poder criador”. Deste poder se encontrariam “sinais” no livro da natureza e no Livro dos livros, a Bíblia. Assim, a “chave” para decifrar o sentido da vida está em Jesus, o protótipo do “homem novo”, segundo a imagem e semelhança de Deus. A reflexão teológica pode, portanto, oferecer à ciência uma contribuição qualitativa e decisiva, acompanhando a evolução do conhecimento biogenético e de sua manipulação. Trata-se, pois, não de um divórcio, mas de uma parceria entre dados da fé e da ciência.
Da ciência saltamos para o cenário sócio-cultural-religioso brasileiro da atualidade. Para compor este cenário Brenda Carranza elenca algumas manifestações. Estas manifestações revelam escolhas e modos de expressar valores básicos do viver humano, condicionados pelo conjunto dos fatores culturais do momento. A análise é interessante como processo de tomada de consciência e, portanto, de avaliação, necessário e característico da permanente busca da verdade e da relativização dos caminhos.
Antônio Francisco Lelo evoca a mistagogia dos Padres da Igreja para introduzir os batizados na compreensão e participação da liturgia do povo de Deus. Este recurso trabalha a relação do cristão com a tradição bíblica a partir de linguagem simbólica, própria para elucidar o sentido sacramental vivido pelos cristãos. Assim, o evento sacramental é entendido como liturgia da vida e o cristão é convidado a viver o mistério celebrado. E a espiritualidade litúrgica apresenta-se como fonte e cume de toda a vida cristã no tempo da Igreja.
Relacionados com a liturgia e, hoje, com o contexto histórico enquanto pluralisticamente religioso, embora em grande parte de âmbito cristão, estão os padrinhos de batismo. Antônio Silva fez um pormenorizado estudo da presença dos padrinhos no Direito Canônico, indicando, assim, seu sentido no decorrer dos tempos e na legislação atual e sugerindo linhas de orientação pastoral neste importante aspecto da corresponsabilidade entre os filhos de Deus.
Do pluralismo religioso acima aludido passamos a uma articulação entre práxis e teoria (macro) ecumênicas, com Francisco de Aquino Júnior. Ele destaca que o pobre é o denominador comum que pode provocar a convergência das diferentes expressões religiosas, enfatizando o essencial e relativizando o acessório. Processo este que leva à convivência, articulando unidade e diversidade.
A Redação da REB agradece aos articulistas e, na dinâmica de viver e pensar a fé em Jesus Cristo Salvador, deseja muitos frutos aos leitores.
Elói Dionísio Piva ofm
Redator