Em direção a uma teologia antimanicomial
DOI:
https://doi.org/10.29386/reb.v84i328.5643Abstract
O desenvolvimento das preocupações teológicas tem se voltado para as questões de caráter público como a educação, os direitos humanos e a saúde. Ao tratar de saúde mental, importam as narrativas e processos históricos que contribuíram para a institucionalização do sofrimento psíquico, mas também o potencial que a espiritualidade revela como instrumento de transignificação das contingências humanas. O objetivo central deste artigo é ensaiar a construção de novos modelos sociais, religiosos e de cuidados em saúde desde um novo imperativo, o do cuidado, em detrimento de antigas formas de dominação. Para tanto, através de revisão bibliográfica narrativa com análise e discussão de conteúdo, propõe-se: a) construir uma breve digressão histórica a respeito do processo de instituição do modelo manicomial; b) identificar os mecanismos de sujeição presentes nesses contextos para minar suas bases; e c) indicar novos horizontes (ou modelos), também teológicos, desde o diálogo com a bioética e demais ciências, seja a partir das análises historiográficas ou da consideração das implicações éticas das relações sociais estabelecidas. Desse modo, ao reconhecer o contínuo exercício de influências teológicas sobre os modelos de cuidado, tornam-se indispensáveis novas proposições que possibilitem a autonomia, defendam a dignidade humana e concretizem as redes de relação e colaboração.
Abstract: The development of theological concerns has turned to public issues such as education, human rights, and health. When dealing with mental health, the narratives and historical processes that contributed to the institutionalization of psychic suffering matter, but also the potential that spirituality reveals as an instrument for transforming human contingencies. The central objective of this article is to rehearse the construction of new social, religious and health care models based on a new imperative, that of care, to the detriment of old forms of domination. Therefore, through narrative review with content analysis and discussion, it is proposed: a) to build a brief historical digression regarding the process of establishing the asylum model; b) identify the mechanisms of subjection present in these contexts to undermine their bases; and c) indicate new horizons (or models), also theological, based on dialogue with bioethics and other sciences, whether based on historiographical analyzes or consideration of the ethical implications of established social relations. Thus, by recognizing the continuous exercise of theological influences on care models, new propositions that enable autonomy, defend human dignity, and materialize relationship and collaboration networks become indispensable.
Keywords: Bioethics; Care; Body; Mental health; Psychic suffering.
Downloads
References
ALARCOS, F.J. Bioética e pastoral da saúde. São Paulo: Paulinas, 1998.
ANTUNES, A. Os manicômios hoje se chamam comunidades terapêuticas. 2014. Disponível em: https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/entrevista/os-manicomios-hoje-se-chamam-comunidades-terapeuticas. Acesso em: 20 fev. 2023.
BRASIL. Lei Nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2001.
CHEMIN, M.R.C.; SOUZA, W. Dignidade e finitude. Revista de Cultura teológica, n. 90, p. 261-278, jul./dez. 2017. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/rct.i90.32810. Acesso em: 05 maio 2022.
COSTA, J.R.E.; ANJOS, M.F.; ZAHER, V.L. Para compreender a doença mental numa perspectiva da bioética. Bioethikos, v. 1, n. 2, p. 103-110, jul./dez. 2007. Disponível em: https://saocamilo-sp.br/bioethikos/bioethikosdetalhes/57. Acesso em: 2 fev. 2023.
ESPERANDIO, M.R.G.; LADD, K.L. Oração e Saúde: questões para a Teologia e para a Psicologia da Religião. Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 11, n. 30, p. 627-656, jun. 2013. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2013v11n30p627. Acesso em: 20 fev. 2023.
FIGUEIRÊDO, M.L.R.; DELEVATI, D.M.; TAVARES, M.G. Entre loucos e manicômios: história da loucura e a reforma psiquiátrica no Brasil. Caderno de Ciências Humanas e Sociais – UNIT – ALAGOAS, [S. l.], v. 2, n. 2, p. 121–136, 2014. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/1797. Acesso em: 18 maio 2023.
FOUCAULT, M. História da loucura. Trad. de José Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Perspectiva, 1978.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Trad. de Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: as confissões da carne. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. v. 4.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974.
HIRDES, A. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re)visão. Ciênc. Saúde coletiva, v. 14, n. 1, p. 297-305, fev. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/GMXKF9mkPwxfK9HXvfL39Nf/. Acesso em: 23 maio 2023.
LUNARDI, V.L.; LUNARDI FINHO, W.D.; SILVEIRA, R.S. da et al. O cuidado de si como condição para o cuidado dos outros nas práticas de saúde. Revista Latino-americana de Enfermagem, v.12, n.6, p. 933-939, dez. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rlae/a/Dd6VcTnMf-V5RffcZhMzqVQF/abstract/?lang=pt#. Acesso em: 15 abr. 2024.
MARCANTONIO, J.H. A loucura institucionalizada: sobre o manicômio e outras formas de controle. Psicol.Inf., v. 14, n. 14, p. 139-159, out. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141588092010000100009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 maio 2023.
MARTINS, A.A. A Pastoral da Saúde e sua importância no mundo da saúde: da presença solidária ao transcender a dor e o sofrimento. O Mundo da Saúde, v. 34, n. 4, p. 547-552, out./dez. 2010. Disponível em: https://revistamundodasaude.emnuvens.com.br/mundodasaude/article/view/600. Acesso em: 02 fev. 2023.
PESSOTTI, I. O século dos manicômios. São Paulo: Editora 34, 2001 (1ª reimpressão).
ROTHER, E.T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, v.20, n.2, p. 1-2, jul. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/z7zZ4Z4GwYV6FR7S9FHTByr/. Acesso em: 20 dez. 2023.
SOUZA, W. A espiritualidade como fonte sistêmica da bioética. Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., v. 5, n. 1, p. 91-121, jan./jun. 2013. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/pistispraxis/article/view/8684. Acesso em: 10 abr. 2024.
SOUZA, W. Da heurística do temor à práxis do amor: Estudo teológico-moral sobre “O princípio responsabilidade” em Hans Jonas. Orientador: Abimar Oliveira de Moraes. 2009. 295 f. Tese (Doutorado em Teologia) – Centro de Teologia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=15628@1. Acesso em: 20 abr. 2020.
TILLICH, P. Teologia sistemática. Trad. de Getúlio Bertelli e Geraldo Korndöfer. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
WÜNSCH, V.L.; NASSER, C.; CORRADI-PERINI, C. et al. Bioética, teologia e saúde mental: diretrizes de cuidado e prevenção do suicídio. Revista Iberoamericana de Bioética, n. 2, p. 1-15, out. 2016. Disponível em: https://revistas.comillas.edu/index.php/bioetica-revista-iberoamericana/article/view/7341. Acesso em: 23 maio 2023.
WZOREK, R. Os princípios da reforma psiquiátrica brasileira em xeque. Revista Debates Insubmissos, v. 4, n. 15, p. 269-280, set./dez. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/article/view/250679. Acesso em: 23 mai. 2023.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2024 Revista Eclesiástica Brasileira
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores cedem os direitos autorais; como gratificação, a REB oferece dois exemplares ao Autor de um artigo.
A REB adere à licença não comercial (Creative Commons). Portanto, é permitida cópia, distribuição e exibição dos textos, respeitados os direitos autorais e citada a fonte de sua proveniência.