Vol. 65 Núm. 258 (2005): Para além da idolatria!
É óbvio que a afirmação do poeta Antônio Machado – o caminho se faz caminhando – se aplica também à práxis pastoral e ao pensar teológico. Aqui, o primeiro ensaio deste fascículo tem esta característica. Cláudio de Oliveira Ribeiro, levando em conta o caminhar teológico latino-americano dos últimos anos, aponta algumas perspectivas do fazer teológico. Com efeito, os caminhos percorridos, percorridos estão; mas os que podem ou deveriam ser abertos se beneficiam dos já trilhados. Auxiliado por Paul Tillich, ele resgata, em primeiro lugar, a dimensão escatológica do Reino de Deus, sem desmerecer a valorizada dimensão histórico-social. Em segundo lugar, pressupondo o enfoque dado à missão da Igreja a partir do Livro do Êxodo, afirma ter chegado o momento de também realçar a experiência sapiencial. E, finalmente, sintonizado com o atual debate teológico em torno do pluralismo religioso, problematiza o exclusivismo salvífico. Parcializar uma totalidade ou totalizar uma parcialidade é tornar-se prisioneiro das malhas da idolatria. Pois, o Deus verdadeiro é plenitude, não parcialidade idolátrica!
Ultimamente, este debate em torno do pluralismo religioso ganhou certa evidência com a Nota da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o livro do teólogo americano Roger Haight, “Jesus, símbolo de Deus”. No ambiente teológico e, principalmente, pastoral do Brasil e da América Latina, este debate e, particularmente, a obra do R. Haight ainda são pouco conhecidos. Movido, pois, pela supramencionada Notificação, Faustino Teixeira, embora não escondendo seu ponto de vista, coloca o leitor/a leitora a par do mérito deste debate teológico no mundo de hoje. Vale a pena conferir.
Próximo desta temática navega o ecumenismo. Claudemiro Godoy do Nascimento e Klaus Paz de Albuquerque, relembram a senda aberta pela mentalidade ecumênica, reevocam perspectivas joaninas e, principalmente, evidenciam o exemplo das Irmãzinhas e dos Irmãozinhos que se inspiram em Charles de Foucauld e dos Irmãos da Comunidade de Taizé. São testemunhos de uma nova perspectiva no mundo religioso, do novo que redescobre o antigo.
Em suma, sendo abrangente, a mudança de paradigmas culturais repercute também no ensino e na aprendizagem teológicos, provocando apatia, insegurança, crises etc. É uma questão de linguagem? Um sintoma de algo mais fundamental? Carlos Eduardo B. Calvani, embora referindo-se a seminários evangélicos, pinta o atual quadro do ensino teológico e aponta os meios ecumênicos e a vinculação com a comunidade eclesial como as melhores condições para favorecer ou despertar, hoje, a mordência da busca intelectual e vital da fé.
Esta busca é recordada por Vital Corbellini ao sondar a convicção de Gregório de Nissa, um dos Pais da Igreja. Este, no esforço de entender e traduzir o mistério da encarnação para o mundo cultural grego, defende a divindade do Verbo e sua comunhão com o ser humano, tendo, para isso, como diz São João, “armado sua tenda entre nós”! É mais uma contribuição que estranha o exclusivismo, sob todos os pontos de vista, e consagra a profunda comunhão divino-humana em Jesus Cristo. Assim, o ser humano, embora caminhando na possibilidade da idolatria, pode viver a ventura da comunhão na totalidade da verdade e da vida.
Por fim, de volta às CEBs, às vésperas do XI Encontro Nacional! O subtítulo que Jomar Ricardo da Silva dá a seu ensaio indica que também as CEBs não são mais as mesmas: embora velhas realidades sociais persistam ou até se agravem, novas abordagens vêm sendo feitas. O caminho se faz caminhando...
Elói Dionísio Piva ofm
Redator