Vol. 59 Núm. 236 (1999): Teologia: balanço e perspectivas
Abrimos este fascículo com uma referência triste e, ao mesmo tempo, muito grata. A tristeza nos visita ao recordarmos o passamento do teólogo Frei Honório Rito de Leão Brasil, ofm, colaborador desta Revista, no dia 03 de outubro, dia em que também se recorda o “trânsito” de São Francisco de Assis; a gratidão brota em nós, movida por sua atividade como teólogo e provincial, por sua contribuição aos leitores da REB e, particularmente, por este seu último ensaio. Através de sua sensibilidade indagativa, podemos tomar contato com o fazer teológico às vésperas do terceiro milênio e, assim, projetar perspectivas de futuro. Isto significa captar as atuais intuições eclesiais, sociais e culturais; significa intuir por onde deveria ir e por onde se direciona concretamente a atividade evangelizadora da Igreja e sua reflexão. Esta percepção é sempre o primeiro passo para o permanentemente necessário aggiornamento do anúncio da Boa-Nova da Vida. A intercessão pela Vida é nosso tributo de fé e gratidão a Fr. Honório.
Já a partir de uma perspectiva sociológica, apontando as duas formas predominantes do catolicismo do Brasil atual e que dialogam com o mundo, Pedro A. Ribeiro de Oliveira nos indica algumas de suas características e nos sugere ser a estrutura da vida material, o mercado, o pano de fundo de sua existência.
Em vista da paz e, portanto, do desejo de superar o que a impede, às vésperas do novo milênio, a reflexão sobre a violência e o mal também reinterpela a Igreja. Uma evidência se impõe: para dar chance ao diálogo, ao perdão, ao nascimento de uma convivência mais humana e cristã, é preciso reconhecer também os próprios desacertos. Mas, para isto, é preciso também que uma atitude humildemente corajosa, honesta, sábia e de conversão acompanhe a revisão histórica. E preciso, ainda e acima de tudo. o brilho de uma Nova Humanidade. Maria Clara Lucchetti Bingemer, Rosemary Fernandes da Costa e Márcio Henrique da Silva Ribeiro se propõem investigar como os cristãos, em alguns momentos históricos paradigmáticos, se portaram diante dos desafios da violência, eles, portadores da Boa-Nova que anuncia a paz. A esperança é a de que, mais conscientes, tenhamos melhores condições de ser promotores da paz no terceiro milênio que já bate às portas.
Com os Agostinianos - conduzidos por Luiz Antônio Pinheiro - recolhemos os frutos de 100 anos de sua segunda presença no Brasil. Porém, com eles também aprendemos a não nos prender ao passado, mas sim, a estar em contínuo processo de refontalização e de reatualização. Esta autoconsciência eles a expressam, em nível de Ordem, com o lema: “Agostinianos Novos para Tempos Novos” ou, em nível de América Latina, “Projeto Hipona. Coração Novo”, o que significa: “promover na Igreja, imersa na sociedade, um dinamismo de conversão e renovação permanentes, pelo testemunho de santidade comunitária da Ordem”.
A mesma consciência bipolar de achega às fontes e de criativa e profética sintonia com a cultura atual nos é dada pelo relato que nos faz João Panazzolo a respeito da caminhada dos COMLAs - de Belo Horizonte a Paraná (Argentina). A Igreja, recorda ele, traz em sua identidade o ser missionária - testemunhar a Boa-Nova do Reino de Deus – e, ao se perguntar pelos destinatários (leitura da realidade histórico-social), manifesta interesse em ouvir os sinais dos tempos e relacioná-los com sua missão.
Que este intercâmbio nos fortaleça!
Elói Dionísio Piva, ofm
Redator