V. 64 N. 256 (2004): Matrimônios falidos: condescendência pastoral
Há quarenta anos, os Padres do Concílio Ecumênico Vaticano II se utilizaram de uma feliz imagem para definir os que colocam sua esperança em Jesus Cristo: estes constituem um povo, um povo específico (de Deus); eles são Povo de Deus. É, pois, do amor gratuito e incondicional de Deus e da experiência vital desta boa-nova que este povo recebe sua permanente vitalidade. E esta graça e experiência vital se traduzem, por sua vez e sociologicamente falando, em forma de organização. Vigoram, pois e simultaneamente, o regime do carisma, da graça, da misericórdia e o da racionalidade organizativa, da instituição, das normas. Dada a óbvia necessidade de ambos para a condição humana, grande questão é a relação entre eles: estreita ela é, embora tudo se encaminhe, ideal e objetivamente falando, para a salvação, para a vida, para o bem da pessoa humana e, portanto, para a glória de Deus. Particularizando mais a questão: como lidar com a situação de pessoas que vivem em uniões canonicamente irregulares? Quais as razões e possibilidades da norma e da condescendência? Ivo Müller, com experiência de pastor e canonista, aborda esta espinhosa e esperançosa situação humana, dentro da conjuntura atual.
De olho nos meios e nos modos mais adequados para cultivar e expressar a experiência religiosa nos dias de hoje, particularmente no Brasil, Celso Pinto Carias percorre o itinerário das CEBs, como alguém que nelas esteve e está integrado de maneira vigilante. É a partir desta posição que ele avalia a caminhada. Constata que, devido ao caráter ensaístico, as CEBs são passíveis de algumas observações críticas, bem como de receberem elogios pela contribuição eclesial que trouxeram. Conclui, portanto, afirmando a positividade da crise de amadurecimento e que, também por isso, as CEBs representam, na atualidade, uma alternativa privilegiada de evangelização.
Se, por um lado, o cuidado pela evangelização chama a atenção para a atualidade sócio-eclesial das pessoas a quem esta se destina, por outro, ele sempre suscitou a busca de auxílio na experiência dos predecessores. Este cuidado se manifesta, agora, na evocação dos 40 anos da promulgação da Lumen Gentium. Assim, Boaventura Kloppenburg, revisitando, como perito conciliar, a mens dos autores da supracitada constituição dogmática do Vaticano II, realça seu caráter dogmático e pastoral. Por sua vez, Sinivaldo Silva Tavares e Eva Aparecida Rezende de Moraes recuperam a origem de algumas das mais fecundas intuições conciliares, evocando o pioneirismo de Johann-Adam Möhler e de Yves Marie-Joseph Congar ao tratarem, respectivamente, a temática da unidade e da pluralidade, do ecumenismo e da historicidade na Igreja. Fazendo isto, com maestria e unção, aqueles teólogos repropuseram a forma como a Igreja deveria se situar no mundo e anunciar a boa-nova de Jesus Cristo. Estes estudos, mesmo que situados em contextos culturais europeus, firmam chão teológico-espiritual para passos seguros e espírito evangelicamente arejado, também no nosso contexto sócio-cultural.
De maneira semelhante, Paulo Suess, após 450 anos do colégio São Paulo de Piratininga, acompanha os primeiros passos da evangelização ali desenvolvida e, com os atores de lá e do restante do Brasil, aprecia as circunstâncias e o modo do anúncio de Cristo.
Que a abordagem da vocação cristã sob diversos ângulos contribua para a edificação da identidade eclesial e para o anúncio da boa-nova da salvação às pessoas de hoje.
Elói Dionísio Piva, ofm
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