V. 74 N. 296 (2014): Paróquia e catecumenato

					Visualizza V. 74 N. 296 (2014): Paróquia e catecumenato

Apresentação

Prezado/a leitor/a, este número te oferece ensaios, basicamente, sobre dois assuntos, que entendemos serem bem-vindos, seja por sua qualidade, seja pelo interesse que certamente podem encontrar e despertar: a transmissão da fé nos dias de hoje, e a interrogação pelo “religioso” na antropologia humana.

A transmissão da fé, hoje como ontem, está relacionada ao contexto sócio-cultural, que há tempo já não é o de cristandade, e que, sob alguns aspectos é caracterizado como pós-moderno. Paradoxalmente, porém, a situação sócio-religiosa dos cristãos de hoje, portanto também dos católicos, encontra algumas semelhanças com a dos cristãos dos primeiros três séculos, no contexto social greco-romano. Por isso, a revalorização da antropologia religiosa como estrutura própria do ser humano, a revalorização da liberdade, da busca e da opção pessoal, a pergunta pela natureza e função de algumas estruturas sócio-eclesiais, como a paróquia. Evidentemente trata-se apenas de alguns elementos sócio-culturais que nos aproximam, como o pluralismo e a secularização. Não se trata, evidentemente, de sugerir o resgate, ipsis litteris, de simbolismos ou de modos de proceder. Pois, a dimensão religiosa é constitutiva, sim, do ser humano, mas ela também se expressa com elementos e modos, hoje, distintos de então. Destes elementos e modos não estaríamos sempre na reinvenção, na procura e na descoberta?!

Assim, o primeiro artigo de João Fernandes Reinert, partindo da problematização da transmissão da fé, hoje, apresenta o resgate da iniciação cristã catecumenal como uma inspiração dos primeiros séculos da experiência cristã. Mas esta iniciação, como mistagogia catecumenal, pede concomitantemente uma renovação paroquial, pede comunidade viva, participativa. As duas frentes, a da vida comunitária e a da iniciação pressupõem-se mutuamente e convidam-se à conversão: à conversão paroquial e à mistagoria catecumenal. É um caminho que contempla a iniciação cristã, a liberdade, a descoberta de valores humano-religiosos, uma opção e vida eclesial. É partir de Jesus Cristo, é fundar e refundar a fé, é começo e recomeço.

Com Volney José Berkenbrock, somos convidados a sondar o humano; o autor apresenta elementos de antropologia religiosa do Candomblé; busca, portanto, para além das expressões cristãs, a linguagem e/ou a estruturação religiosa como que natural, mas culturalmente expressa na tradição do candomblé. Pode-se, antão, suspeitar, com ele, que, por qualquer porta que se entrar ou por quaisquer caminho sócio-cultural por que se queira transitar, encontram-se características próprias do ser humano, dentre as quais, as que retemos como religiosas.

Por seu turno, Dayvid da Silva, partindo do estudo e, depois, do documento da CNBB, Paróquia: comunidade de comunidades, perscruta o passado, analisa o presente e pensa o futuro da instituição paróquia; e tira conclusões em prol da maleabilidade e da relevância desta instituições para a vida eclesial.

Renato Kircher e Luís Gabriel Provinciatto, por caminhos filosóficos e seguindo Karl Barth, na reflexão provocada nele pela Primeira Guerra Mundial e expressa em seu comentário à Carta aos Romanos, explicitam o que entende ele ser o sentido do fenômeno religioso, por ele, Barth, confirmado. E, nisto é cotejado também Martin Heidegger, pelo que ele, em seu texto Introdução à fenomenologia da religião, denomina como “experiência fática da vida”.

A experiência do sagrado e do profano é o tema da pesquisa de Urbano Zilles. Ele articula e ilustra o fenômeno religioso, partindo das análises de dois conhecidos estudiosos e especialistas no assunto: Rudolf Otto e Mircea Eliade.

Finalmente, Elismar Alves dos Santos e Cleusa da Piedade Guimarães tratam da dimensão espiritual na psicoterapia, entendendo-a como fundamental.

Tudo leva, pois, ao ser humano como ser religioso, mesmo num contexto de secularização. A partir da estrutura antropológica do ser humano, constante e dinâmica, tem-se a chance e a necessidade de auscultar, de entender e articular a linguagem mítico-simbólica que varia no tempo e de acordo com a respectiva cultura em que toda pessoa está inserida. Antes de qualquer religião, poderíamos dizer. Portanto, que a admiração pelo ser humano e a compaixão por sua situação ajudem a discernir, para os dias de hoje, os caminhos pessoais e culturais da vivência e da transmissão da fé cristã.

Elói Dionísio Piva ofm

Redator

Pubblicato: 2014-10-18