V. 69 N. 274 (2009): Religiosidade popular: um rosto plural
A Igreja católica na América Latina, expressando-se com autoridade na e através da V Conferência de seu Episcopado, em Aparecida, reacolhe e reassume com vigor sua missão evangelizadora. Evidentemente, a referência fontal é o mandato do Senhor, adornado pela memória de mais de 500 anos de presença neste Continente. Pressuposto este cenário, mas delimitando-se ao rosto sócio-religioso brasileiro, Pedro Rubens Ferreira de Oliveira partilha sua percepção da atualidade evangelizadora neste espaço social. Esta percepção constata uma efervescência. Uma “efervescência religiosa sem precedentes e uma ambiguidade sem limites”. CEBs, RCC e Neopentecostalismo autônomo são três manifestações desta efervescência, paradoxal no presente contexto cultural de secularização. Sendo assim, pergunta-se: trata-se de um retorno religioso? Ou, antes, de reacomodação e de manifestação de diferentes rostos de uma mesma matriz religioso-cultural, a matriz do cristianismo popular? Se assim é, estamos diante de muitos rostos, de muitas expressões que revelam a diversidade cultural de nosso povo, bem como as possibilidades e os limites da expressão cultural da religião. Ora, qual seria o efeito deste olhar benevolente e perspicaz para o testemunho e o desempenho da missão evangelizadora da Igreja no pluralismo de hoje, particularmente no Brasil e, por extensão, na América Latina?
Muitos organismos e reuniões a nível local, regional e internacional discutem hoje o uso racional da água, movidos por sua escassez e poluição, e fazem prognósticos, não raro, alarmantes, para o futuro, estimulando, por isso, as pessoas a uma corresponsabilidade coletiva. Elisandro Fiametti e Márcio Fabri dos Anjos, retomando a temática da CP/2004, reforçam o (re)despertar ético que o uso da água coloca, hoje, de modo particular às igrejas.
Em continuidade com as preocupações éticas de hoje e de modo abrangente em relação à vida (bioética), Leo Pessini, levanta algumas questões pertinentes à América Latina, destacando a crescente percepção com o social e, portanto, a percepção de uma ética social, uma demanda e uma contribuição da América Latina.
Os gritantes contrastes do acesso aos bens do trabalho e da Terra em tempos de globalização neoliberal, sistema que ora passa por uma de suas mais graves crises, dão oportunidade a Claudinei Jair Lopes para rediscutir e repropor a temática de um cristianismo sensível à justiça, ao compromisso com a promoção da pessoa humana.
Recepção de Aparecida pelas igrejas locais. Este é o assunto de Antonio Alves de Melo. Descreve e propõe o ideal (da tradição) da recepção: criativa, pois, também neste caso, o que é proposto é expressão da sinodalidade e colegialidade da Igreja católica na América Latina. Ressaltando três aspectos da proposta de Aparecida: o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, a conversão pastoral e a opção pelos pobres e excluídos, acena para a possibilidade de uma nova era da Igreja no Continente.
A amostra sobre a representação vocacional de canditatos/as à vida consagrada e sacerdotal consolida antigas e novas constatações e preocupações a respeito de circunstâncias do chamado, de sua natureza e do futuro das religiões institucionalizadas. É o que constata Sílvia Regina Alves Fernandes. Vale a pena conferir.
Por fim, dando continuidade ao debate sobre a TdL e seu método, Francisco de Aquino Júnior apresenta a crítica de Clodovis Boff à tese de Jon Sobrino da Teologia como “intellectus amoris” e tece algumas ponderações à referida crítica. A discussão é importante, pois concerne a compreensão da missão da Igreja e, portanto, o modo como as discípulas e os discípulos de Jesus Cristo se apresentam no mundo, e, particularmente, na atual configuração sócio-religiosa da América Latina.
Elói Dionísio Piva ofm
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