Vol. 64 N.º 253 (2004): Urgência ecumênica na AL

					Ver Vol. 64 N.º 253 (2004): Urgência ecumênica na AL

Um aspecto atual e envolvente de nossa cultura, genericamente qualificada como neoliberal, realça o econômico e o individual. Como tal, atinge também o universo simbólico cristão, instrumentalizando seus símbolos para fins econômicos e políticos. Assim, deturpa-se o sentido da simbologia cristã e manipula-se a boa-fé de muitos cristãos latino-americanos, particularmente dos mais pobres. Mário de França Miranda, neste incisivo artigo, ajuda-nos a ter consciência, quem sabe mais clara, deste fenômeno e convoca as igrejas – sinais da salvação de Deus em Jesus Cristo – para uma revalorização da própria identidade e lhes faz o convite para uma ação ecumênica em prol da justiça e do compromisso com os marginalizados da sociedade.

Ao apontar algumas características da espiritualidade missionária a partir da América Latina, José María Vigil matiza valores fundamentais da fé através da mediação da realidade sociocultural e religiosa de nosso Continente. Com isso, reforça a atuação ecumênica dos cristãos a fim de serem fermento na massa, ou seja, “lerem” e “avaliarem” as presentes circunstâncias histórico-culturais a partir do Evangelho e, conseqüentemente, serem evangelizadores através da defesa e do serviço aos mais desassistidos.

Nosso ex-redator e ora bispo emérito de Novo Hamburgo, RS, Boaventura Kloppenburg, apresenta distinções entre a Liturgia “oficial” da Igreja católica e diversas formas de piedade popular. Ao fazer distinções, o Autor valoriza tanto uma como outra expressão, ressaltando, porém, o valor da piedade que poderíamos referir à atividade da “Igreja doméstica”.

Já o conhecido e benemérito colaborador desta Revista, Hubert Lepargneur, lança um olhar sobre a atual fronteira da produção técnico-científica. Esta fronteira, particularmente no campo da biologia, apresenta não poucos questionamentos à fé cristã. Com isso, pensar ou repensar a relação “fé-ciência” constitui-se numa sentida necessidade, pois a instigação nos vem desta própria cultura ou, mais especificamente, do ser humano por ela construído.

O Professor Massimo Grilli, dando continuidade ao texto “Evento comunicativo e interpretação de um texto bíblico”, já publicado na REB 63 (2003) 295-319, apresenta agora a aplicação do método a um texto específico: Mc 9,2-13 – a transfiguração de Jesus. Ele nos mostra como o Autor bíblico mesclou esquemas literários a serviço da comunicação da identidade de Jesus e do sentido de seu sofrimento, fazendo com que o leitor seja levado a entender que Deus também tem poder para transfigurar o caminho do sofrimento humano em caminho de ressurreição e vida.

Com Sérgio Ricardo Coutinho, voltamos nossa atenção para a cultura política brasileira. O Autor afirma que as CEBs conjugaram e conjugam tradição e modernidade, ou seja: ajudaram a manter e a revalorizar a reciprocidade, tão presente em nosso convívio, e fruto, também e principalmente, de nossa tradição cristã, católica sobretudo, e a democracia, reconquistada e todavia ainda (e sempre) buscada.

Por fim, José Wiliam Corrêa de Araújo aborda uma das percepções que, felizmente, vai ganhando terreno: a necessidade de se rever o lugar do ser humano no mundo, ou seja: ele propõe que este ser humano reavalie seu espírito predatório em relação a si mesmo e ao conjunto da criação. E isto, em primeiro lugar, por um motivo óbvio: a própria sobrevivência e uma melhor qualidade de vida; e, em segundo, em conseqüência do advento da percepção (e também do desejo) da dignidade de toda criatura.

Queasreflexõesapresentadasestimulemequalifiquemaindamaisasiniciativasevangelizadoras a partir deste novo ano!

Elói Dionísio Piva, ofm

Redator

Publicado: 2004-05-15