Vol. 72 N.º 285 (2012): Por uma "outra" sociedade
Toda visão ou percepção é visão ou percepção a partir de um ponto. A vista e a cabeça costumam ver e pensar a partir dos pés. Por isso, cada cabeça, uma sentença; determinismo subjetivista!? Mas há um “mas”! Ser humano é, sobretudo, fazer experiência de liberdade, criatividade, poesia, humor, mística, do que transcende, do outro. E nisto também há revelação, acolhemos a Revelação cristã e, a partir delas, construímos tradições, construímos a Tradição cristã. Pela Revelação cristã, Deus se dá a conhecer a si mesmo, e o faz como Aquele que ouve o clamor, que é sensível ao sofrimento das pessoas, que sai em auxílio dos carentes, em defesa dos excluídos ou marginalizados de todas as formas. Esta Revelação feita pessoa, carne, em Jesus, o Ungido, rejeita o legalismo do Templo e reassume, na tradição judaica, o alerta dos profetas em favor da justiça e a leva a termo. Em sua pregação, a linguagem figurativa do Reino carrega e transmite o sonho e o dinamismo da construção de uma “nova” sociedade, em vista de sua plenitude futura. Até aqui, nenhuma novidade. Mas, o chamar a atenção para a dimensão social da Revelação e, portanto, do compromisso do discípulo, decorre de uma percepção de que, no momento atual, as atenções parecem voltar-se preferencialmente para o Templo. Manter, pois, a dimensão do Templo e, ao mesmo tempo, o engajamento individual e coletivo em busca de uma “nova” sociedade parece ser o desafio pastoral de nossos dias. Nicolau João Bakker levanta esta interrogação. Vale a pena conferir.
Aparecida Maria de Vasconcelos, visita Pierre Teilhard de Chardin e, ao regressar, com encanto narra um pouco da mística do visitado, que ela qualifica como a mística da Terra. Esta mística, evidentemente, se alimenta do mistério de Deus, percebido na aproximação científica e humana da composição da matéria, da evolução da vida e da consciência. A partir de um encantamento de fundo, Chardin é um convite para a ação criadora ou co-criadora, como também conduz a uma reflexão sobre o desencanto, a dor, a morte, para retornar com a certeza de que, na Páscoa de Cristo e com Cristo, entrevemos a meta deste caminho ativo e passivo.
Por sua vez, Rogério Foschiera apresenta a reflexão de Charles Taylor, pertinente para a qualificação da educação e da experiência religiosa. Segundo ele, para levar a bom termo a missão educativa é necessário apontar para um além, um plus, uma transcendência e viver desta dimensão aberta ao infinito. E mais, lembra que esta é uma experiência pessoal e, por isso, percebe que, para falar de Deus ou para exprimir a experiência de transcendência, há que se tocar o núcleo mais íntimo de percepção e da decisão do ser humano. As tradições sempre carecem desta fonte original e originante.
Muitas pessoas, no mundo de hoje, por diversas razões, migram. É um fenômeno sociológico sobejamente constatado. Lúcia Ribeiro de Manuel A. Vásquez, com os pés em Atlanta, USA, e em contato com a situação de imigrantes brasileiros e de outros países, observam e analisam algumas dificuldades com as quais as comunidades de fé se deparam e com algumas possibilidades que, com criatividade, encontram. Interações sempre mais presentes no mundo globalizado e que podem ter diferentes desdobramentos!
Uso de aparatos técnicos nas celebrações? É ponto pacífico? Eles levantam a pergunta pela característica específica ou própria de celebrações religiosas. Poderosos e envolventes meios técnicos facilmente transformam-nas em espetáculo, show, animação coletiva. Não necessariamente, mas a pergunta fica: o que convém, o que é condizente, o que perturba uma celebração religiosa? Danilo César dos Santos Lima retoma esta reflexão.
Assunto-aborto costuma ser polêmico. Não raro e a priori toma-se posições pró ou contra. Defende-se ou condena-se a Igreja católica. Mário Antônio Sanches percorre então seus principais e recentes documentos sobre o assunto, além de se basear em pesquisa de campo, e conclui que a Igreja católica se apresenta como Mestra e Mãe, superando o preconceito generalizado de que ela, neste e em outros assuntos, simplesmente seria insensível, sempre “do contra”.
Que a partilha do pão da palavra nos possibilite crescimento em humanidade!
Elói Dionísio Piva ofm
Redator